Porto Alegre ano a ano
Fonte:http://www.jornalja.com.br/2012/03/27/porto-alegre-ano-a-ano/
O historiador e escritor Sérgio da Costa Franco lançou – nesta quarta-feira (28/03), no Centro Cultural Erico Verissimo – o livro Porto Alegre ano a ano 1732-1950 pela editora Suliane Letra e Vida.A obra – cerca de 320 páginas, com muitas ilustrações, fotos e folhas de rosto de jornais antigos – é o sexto trabalho individual do escritor sobre a capital gaúcha, com uma abordagem mais jornalística do que histórica, destinada, principalmente, a servir como guia de consultas sobre importantes efemérides e fatos pitorescos dos séculos XVIII, XIX, e XX.
O livro, certamente, também aguçara a velha polêmica sobre a data de fundação de Porto Alegre: 1732, quando se estabelecem alguns estancieiros – como Jerônimo de Ornelas? Ou 1752, quando chegam os primeiros casais de açorianos? Ou 1772, data oficial, quando foi desmembrada de Viamão?
Natural de Jaguarão e apaixonado por Porto Alegre, onde construiu vida e carreira profissional, Costa Franco ajudou a derrubar certas lendas, como a da “muralha” que cercava a cidade e que, segundo ele, “não passava de uma fossa cheia de maricás e seus espinhos”.
Em Porto Alegre ano a ano 1732-1950, que consumiu dois anos de pesquisa, Costa Franco prendeu-se a história factual, consultando velhas atas da Câmara Municipal e da Assembleia, relatórios oficiais, jornais e revistas: “é jornal
ismo puro, nada de interpretações e explicações como fazem os acadêmicos historiadores. Trata-se, grosso modo, de um almanaque, um guia para diferentes tipos de pesquisadores ou curiosos”, explica o escritor.
Para ele – apesar da ocupação da região por estancieiros, em 1732, ou 20 anos depois, por casais de açorianos que, originalmente, dirigiam-se as Missões – a data de 1772, como fundação oficial da cidade, é mais significativa por razões, não de início de povoamento, mas de autonomia em relação a Viamão, primeira capital da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul: “é a partir de 1772 que as coisas realmente se organizam, que a aldeia de pescadores passa a ganhar contornos de burgo cuja denominação evoluirá de Porto do Dorneles para São Francisco do Porto dos Casais e, em 1773, para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre”.
Assim, sem fazer concessões ao ficcional e ao lendário, como consta na apresentação do livro, trata-se, Porto Alegre ano a ano 1732-1950, de uma cronologia histórica, na qual estão registrados episódios da vida política, administrativa, econômica, cultural e esportiva da cidade. Vejamos alguns tópicos.
1732, os primeiros estancieiros
Mapa das três sesmarias que formariam a cidade de Porto Alegre. O núcleo do vilarejo estava nas terras de Jerônimo de Ornellas, que tinhas limites no rio Gravataí até o arroio Jacarai (Dilúvio).
“Alguns anos depois da expedição de João Magalhães e seus 30 lagunistas, que em novembro de 1725 vieram ao Rio Grande num reconhecimento de caráter militar e afirmação de posse, começaram a estabelecer-se invernadas e estâncias nos campos de Viamão, inclusive no que é hoje o município de Porto Alegre. Pela mesma época, estabeleceram-se com invernadas e fazendas de criação, Jerônimo de Ornelas Menezes Vasconcelos, natural da ilha da Madeira, que estagiara por algum tempo em Minas Gerais e em Guaratinguetá-SP, mais Sebastião Francisco Chaves e Dionísio Rodrigues Mendes, ambos procedentes de Laguna SC”.
1752, chegada de paulistas e açorianos
“A 19 de novembro desse ano, chegaram ao local então chamado de “Porto de Viamão”, às margens do Lago Guaíba e em terras de Jerônimo de Ornelas, 60 paulistas enviados pelo Coronel Cristóvão Pereira de Abreu, devidamente armados e municiados, e com as indispensáveis ferramentas de trabalho, para preparar a migração de casais açorianos, que deveriam estabelecer-se no território dos 7 Povos das Missões”.
1772, criação da freguesia
“26 de março – O bispo do Rio de Janeiro, Dom Antônio do Desterro, desmembrou o Porto dos Casais da jurisdição da freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viamão, denominando-a como “freguesia de São Francisco do Porto dos Casais”. Esta data, duzentos anos depois, foi oficializada pelo município com o da fundação de Porto Alegre. Também cabe destacar que, em 25 de julho de 1773, o então governador José Marcelino de Figueiredo, comunicou aos “juízes ordinários e mais oficiais da Câmara deste Continente do Rio Grande, a mudança da capital, que se achava sediada em Viamão, para Porto Alegre.
1854, outro réu supliciado na forca
“A 9-novembro, às 11h da manhã, no Largo da Forca, sofreu a pena capital o baiano Manoel (escrevo de Fermiano Pereira Soares), que, para ser vendido, se achava hospedado na casa do comerciante Domingos José Lopes, à esquina da Rua da Praia com a Vasco Alves. Tinha resistido a uma ordem de Domingos e reagira contra o castigo que este lhe quisera aplicar. Na luta que se seguiu, contra os escravos que secundavam o patrão, matou Gaspar a golpes de faca e lesionou gravemente outros dois cativos da casa [...] Da execução deste escravo nasceu a lenda das “torres malditas”, porque ele teria, no patíbulo, augurado que a igreja das Dores, então ainda em obras, jamais seria concluída”.
1855, abriu-se um dos primeiros cafés
“Na rua Nova, hoje Andrade Neves, o imigrante italiano João Batista Blengini abriu um dos primeiros cafés da cidade, que foi o “Café da Fama”. Esse estabelecimento deve ter durado muitos anos, pois a ele se referiu Aquiles Porto Alegre em uma de sua crônicas”. Segundo o comentário de Aquiles: “Neste tempo, havia uma séria prevenção contra as casas de negócio deste gênero. Pareciam casas malditas. De dia só aparecia lá um ou outro forasteiro vindo de terras mais cultas ou algum embarcadiço de cachimbo ao canto da boca. Pessoa conhecida esperava que caísse a noite para ir até lá”.
1855, declarou-se em novembro a epidemia de cólera
“Uma terrível epidemia de cólera-morbo, a mais trágica epidemia na história sanitária de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, manifestou-se em Porto Alegre a partir de 20-novembro, depois de já se haver declarado em Rio Grande, Pelotas e Jaguarão. Segundo o relato oficial do presidente provincial, Barão de Muritiba, a doença, que já grassava em portos o norte e do sudeste, chegou com passageiros do vapor “Imperatriz”, vindos do Rio de janeiro. Desde logo foi alta a letalidade, sobretudo entre escravos”.
1917, a passeata da rolha
“Em 26 de outubro, o presidente Venceslau Braz declarou o estado de guerra entre o Brasil e a Alemanha, o que gerou sérias preocupações ao governo de Borges de Medeiros, em face dos graves acontecimentos ocorridos em abril. O chefe de polícia de então, Firmino Paim filho, publicou um edital proibindo reuniões públicas de mais de duas pessoas. Porém a época era de disputa eleitoral, avizinhava-se o pleito em que Borges de Medeiros pleiteava nova reeleição, o que, de algum modo explica o inédito protesto da oposição. Aparício Torelli (o barão de Itararé), então estudante de Medicina, de notórias tendências humorísticas, organizou, em 29 de outubro, uma segunda-feira, um desfile mudo, a dois de fundo, com os participantes de rolhas na boca. Segundo o cronista Augusto Meyer, seria uma coluna por dois, porque o edital proibia ajuntamento de mais de duas pessoas. Todos os participantes do desfile levavam rolhas na boca, silenciosos, passo a passo, caminhando ao longo da Rua Duque de Caxias, em direção a sede do governo. A passeata foi atalhada e dissolvida antes da esquina da Rua Espírito Santo pela cavalaria do piquete presidencial”.
1918, briga de faca num grenal
“No que parece ter sido o primeiro incidente grave em partidas entre o Grêmio e o Internacional, em quatro de agosto, no campo da Baixada, da Rua Mostardeiro, um torcedor do Grêmio, Manoel de Almeida Costa, agrediu a faca o atleta Álvaro Ribas, do Inter, assim como a Octavio Telles de Freitas, funcionário da Delegacia Fiscal do Tesouro. O agressor foi preso em flagrante e conduzido ao posto policial no automóvel do próprio chefe de polícia, Ariosto Pinto. A partida foi interrompida quando o Grêmio vencia por uma zero, em gol de pênalti; nunca foi concluída. A rivalidade entre as duas torcidas se tornara forte desde 1913, quando o internacional venceu seu primeiro grenal”.
Por Francisco Ribeiro
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