segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011 7:40
Sob o sol forte, a demonstração da fé
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
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Quem puxa o cortejo é Marco Antonio Hernandes, o Marquinhos, 44. Atrás dele vem a filha Giovana de Pauli Hernandes, 13. "Eu e minha esposa nos casamos na igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, e nossas duas filhas foram criadas aqui. A tradição é parte da família", contou.
O sol continua brilhando sobre os fiéis enquanto a procissão percorre as ruas da Praia Vermelha, também no Eldorado. Mesmo sem o menor sinal de chuva, alguns abrem a sombrinha para se proteger do calor intenso. Luiza Maria Nogueira Lima, 58, não trouxe o guarda-chuva e recorre a um banquinho para proteger o rosto avermelhado. "Participo há tantos anos que nem lembro mais. Não importa se está frio, calor, chovendo, podia até nevar. Venho enquanto a perna aguentar", garantiu.
União
Quando o barco se aproximou da Prainha do Riacho Grande, o padre abandonou a camiseta e vestiu a batina. A Seleção Brasileira de canoagem completou o cortejo composto por lanchas, jet skis e outras embarcações mais modestas. "Essa festa é uma forma de prestar homenagem à Represa Billings e à natureza", explicou.
Padre Odair destacou que o dia de Nossa Senhora dos Navegantes é comemorado em 2 de fevereiro, mesmo dia de Iemanjá, e ambas protegem as águas e aqueles que dela vivem. "Nada melhor que pedir à santa que proteja o maior bem da região, que é a nossa represa", disse.
Nossa Senhora dos Navegantes chega às margens da Prainha sem parte das flores que a enfeitavam, mas não perde o poder de arrastar multidões: reuniu cerca de 1.000 pessoas nas duas margens da represa. A missa em sua homenagem foi conduzida pelo bispo Dom Nelson Westrupp, e os fiéis persistiam mesmo após quase três horas de procissão.
A história do sonho e da promessa de dona Maria
Maria Venâncio Correia, 66 anos completados no próximo sábado, tinha dois sonhos na vida: um era andar de barco, o outro de avião. O primeiro ela realizou ontem, durante a procissão de Nossa Senhora dos Navegantes.
A senhora de aspecto frágil e pele morena saiu do Sítio Joaninha, onde mora, e caminhou por uma hora até chegar ao Eldorado, de onde partiu a procissão. Ela explicou que não foi só pelo sonho, não. "Fiz promessa para Nossa Senhora dos Navegantes e tinha de cumprir", garantiu.
Dona Maria trabalhou grande parte da infância e juventude na roça, no interior de Minas Gerais. "Essa vida não é fácil. A gente trabalha debaixo de sol e chuva, com o pé descalço. Dá bicho e à noite tinha que tirar, era horrível", relembrou, enquanto navegava na cabine do barco que levava a imagem da santa.
"A senhora está com medo, dona Maria?", perguntou a equipe do Diário. "Ah, um pouco a gente fica, né? Nunca vi água desse jeito, lá onde eu morava era sertão."
O sertão de dona Maria ela não sabe dizer como se chamava. Só sabe que lá fazia muito calor, então, nem se incomoda com o sol. "Conheci meu marido por lá, e ele era paulista. Me trouxe para cá e aqui fiquei. Agora que ele se foi, moro sozinha". Dona Maria suspira, talvez com saudades do marido, antes de corrigir: "Ah, sozinha, não! Com Nossa Senhora."