Obama: Autoridades líbias terão de prestar contas sobre repressão
Presidente americano enviará secretária de Estado Hillary Clinton para coordenar esforços com aliados e parceiros
Em seu primeiro pronunciamento desde que a crise começou na Líbia em 17 de fevereiro, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou nesta quarta-feira que as autoridades líbias terão de prestar contas sobre os atos de violência contra os manifestantes que pedem a renúncia do líder Muamar Kadafi. "Autoridades líbias terão de prestar contas de atos de violência contra a população", disse em pronunciamento nesta quarta-feira.
O discurso do líder americano foi feito após o porta-voz do Departamento de Estado, Peter Crowley, afirmar que os EUA estão considerando uma série de respostas à violenta crise política na Líbia, incluindo a possibilidade de sanções e congelamento de bens.
"Estamos preparando amplas opções em resposta à violência em coordenação com aliados e parceiros", disse Obama, ao explicar que a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, estará na segunda-feira em Genebra para se reunir com ministros das Relações Exteriores em uma sessão do Conselho de Direitos Humanos sobre a violência no país do norte da África.
Foto: AP
Obama pronunciou-se sobre a Líbia nesta quarta-feira, ao lado da secretária de Estado Hillary Clinton, na Casa Branca
"Lá, ela manterá consultas com nossos parceiros sobre os eventos em toda a região e continuará assegurando que nos unamos à comunidade internacional para falar com uma única voz para o governo e a população da Líbia", afirmou. De acordo com diplomatas que falaram à rede de TV CNN, o Conselho de Direitos Humanos, que faz parte da ONU, está negociando uma resolução sobre a Líbia.
Em sua declaração, Obama afirmou que instruiu o subsecretário de Estado para questões políticas, Bill Burns, a fazer várias escalas "na Europa e na região para intensificar nossas consultas com aliados e parceiros sobre a situação na Líbia".
Obama, que quebrou seu silêncio sobre a crise após os EUA iniciarem a retirada de cidadãos americanos do país, afirmou que "o sofrimento e o banho de sangue são ultrajantes e inaceitáveis". O presidente afirmou que "proteger americanos na Líbia é uma das mais altas prioridades" de Washington.
Em seu pronunciamento, o líder americano também disse ser importante lembrar que "a mudança está sendo liderada pelas populações da região, que aspiram a uma vida melhor. "(Os EUA) continuarão a defender a liberdade, a justiça e a dignidade de todos os povos."
Sanções
Mais cedo, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, voltou a condenar o uso da violência contra manifestantes na Líbia, durante entrevista ao lado do chanceler brasileiro, Antonio Patriota. Ela advertiu que o governo de deverá se responsabilizar por suas ações. "Vamos refletir sobre todas as opções possíveis para tentar colocar um ponto final na violência, para tentar influir sobre o governo", disse ela. A secretária de Estado também destacou a necessidade de uma ação conjunta da comunidade internacional, ao lembrar que "muitos países têm uma relação mais próxima da Líbia do que a mantida pelos EUA".
Além das sanções, o Departamento de Estado americano estuda congelar os bens do governo líbio e de Kadafi. "Estamos observando um âmbito completo de instrumentos e opções que estão disponíveis para alcançarmos nosso objetivo, que certamente incluem a consideração de sanções que podem ser impostas", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Peter Crowley.
Também nesta quarta-feira, os países da União Europeia (UE) decidiram avançar na imposição de sanções ao regime de Kadafi ao encarregar seus especialistas de apresentar uma série de medidas concretas. Segundo informaram fontes do bloco europeu, as sanções poderiam abranger desde o congelamento de bens de dirigentes líbios, proibições para entrada em território da UE a um embargo de armas.
Esse primeiro passo para a imposição de sanções ao regime líbio foi dado durante reunião de embaixadores no Comitê Político e de Segurança da União Europeia (COPS), convocada pela chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, que na terça-feira já havia anunciado a suspensão das negociações com a Líbia.
O anúncio da União Europeia ocorreu após o presidente da França, Nicolas Sarkozy, pedir que a Europa suspenda todos os laços econômicos com a Líbia e adote sanções contra o país. O apelo foi feito enquanto a ONU conclamou os países vizinhos da Líbia a aceitar aqueles que tentam cruzar a fronteira para fugir do caos e da violência.
De acordo com os primeiros dados oficiais apresentados pelo regime de Kadafi desde o início dos protestos, a violência no país deixou 300 mortos, incluindo 58 militares. Mas há informações não confirmadas de que o número de vítimas fatais poderia ser muito maior.
Segundo a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH), pelo menos 640 morreram, número que representa mais que o dobro do balanço oficial do governo líbio. A FIDH indica que houve 275 mortos em Trípoli e 230 na cidade de Benghazi, epicentro dos protestos.
O chanceler italiano, porém, afirmou que é "verossímil" estimar que o número de mortos nos sete dias de protestos possa chegar a mil, enquanto o líbio Sayed al-Shanuka, que integra o Tribunal Penal Internacional, disse que o número de mortos poderia ser até de 10 mil. Já o médico francês Gérard Buffet, que acaba de voltar de Benghazi, estimou que os confrontos na cidade fizeram "mais de 2 mil mortos".
Avanço da oposição
O aumento de pressão internacional contra a Líbia ocorre enquanto as forças de segurança da Líbia tentam manter o controle da capital, Trípoli, e áreas no oeste do país. Há informações de que o governo perdeu do controle da região oriental.
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O ex-ministro da Justiça Mustafa Abdel Jalil, que renunciou ao cargo na segunda-feira, afirmou nesta quarta que a parte oriental "foi totalmente libertada do controle" de Kadafi, enquanto oficiais do Exército de Al-Jabal al Akhdar, no nordeste, anunciaram que se uniram aos manifestantes.
"Nós, os oficiais e os soldados das Forças Armadas na direção da região de Al-Jabal al Akhdar anunciamos nossa união total à revolução popular", disse nesta quarta-feira um porta-voz militar em um vídeo divulgado pelas emissoras "Al-Jazeera" e "Al-Arabiya".
Em mais um sinal de deserção e da perda de força do governo do presidente líbio, Muamar Kadafi, pilotos da Força Aérea líbia se recusaram a bombardear Benghazi, a segunda maior cidade do país que está sob controle da oposição, e se ejetaram do caça que pilotavam.
Há relatos de que a oposição tomou o controle de Misrata, que se tornaria a primeira grande cidade do oeste da Líbia a sair das mãos do governo. Testemunhas disseram que a população estava comemorando com um buzinaço.
A violenta repressão aos protestos provocou a renúncia de diversas autoridades do governo, como o ministro do Interior, Abdel Fattah Younes al Abidi, e da Justiça, Mustafá Abdel Yalil. Além disso, pelo menos oito embaixadores e diplomatas de alta hierarquia renunciaram a seus cargos em protesto pela violenta repressão aos protestos.
Os embaixadores que deixaram seus postos são os chefes das missões líbias na Austrália, Bangladesh, China, EUA, Índia, Indonésia, Malásia, Polônia. Diplomatas do país na Liga Árabe e na ONU também deixaram o governo.
O embaixador da Líbia no Brasil, Salem Ezubedi, não vai à representação diplomática em Brasília nesta quarta-feira, informou uma assessora ao iG. Segundo ela, Ezubedi "está sofrendo muito com tudo isso. É o povo dele que está morrendo".
A Embaixada da Líbia na Áustria emitiu um comunicado nesta quarta-feira dizendo que "condena a violência excessiva contra manifestantes pacíficos" e afirmou que está representando "o povo líbio".
Com AP, EFE, AFP, Reuters e BBC