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terça-feira, 12 de abril de 2011

Dilma quase chinesa...


12/04/2011 - 12h01

Dilma, estilo e resultados

DE PEQUIM


A primeira viagem realmente internacional da presidente Dilma Rousseff serviu para duas coisas pelo menos: marcar claramente a diferença de estilo entre ela e seu antecessor e praticar o que vem sendo chamado pela mídia de "diplomacia de resultados".
Diferença de estilo não quer dizer uma mudança na substância da política externa brasileira. Quer dizer apenas que o jeito Dilma de ser nada tem a ver, rigorosamente nada, com o de Lula.
A presidente fez nesta terça-feira dois discursos em Pequim, um em seminário de ciência e tecnologia e, o outro, em seminário de negócios Brasil-China. Não perpetrou um só improviso, não saiu uma linha do texto impresso, não arrancou uma só risada, quanto mais gargalhada, dos auditórios.
Lula era o oposto. Sempre introduzia cacos, histórias de sua vida pessoal ou sindical ou política. E usava expressões populares que devem ter tirado do sério o seu competentíssimo tradutor, Sérgio Ferreira, que, aliás, ficou com o ex-presidente, em vez de acompanhar a sucessora.

Mesmo na entrevista coletiva a que os presidentes usualmente se submetem durante viagens internacionais, Dilma não improvisou. Tinha às mãos uma porção de papéis e fichas que consultava para não perder o fio da meada.
Se me perguntassem, eu responderia que prefiro o estilo Lula. É jornalisticamente mais divertido. Mas não quer dizer, em absoluto, que seja melhor. Ou pior. É diferente e rende mais do ponto de vista noticioso. Se rende mais também do ponto de vista dos interesses da pátria amada, é o que veremos dentro de quatro ou oito anos.
Passemos então aos resultados da visita oficial à China, que praticamente terminou ontem com a assinatura
de 12 acordos e do tradicional comunicado conjunto.

Dilma, é claro, festejou o resultado. Veio com uma agenda de mudança da qualidade do comércio China/Brasil, que é quase colonial no momento. A China exporta bens de valor agregado, ao passo que o Brasil vende bens primários.
O comunicado diz que "a parte chinesa manifestou disposição de incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos de maior valor agregado do Brasil".
Ponto para Dilma? Nem tanto, se se considerar que o próprio presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Braga de Almeida, diz duvidar de que seja possível aumentar as exportações de manufaturados para a China.
Mas a culpa é menos da China e mais do Brasil, que com os juros lá em cima, um câmbio desvalorizado e um sistema tributário anárquico, não tem mesmo muito como competir com os chineses.
O comunicado diz ainda que os dois países "comprometeram-se a ampliar e diversificar investimentos recíprocos, em particular na indústria de alta tecnologia e automotiva e nos setores de energia, mineração e logística, sob a forma de parcerias entre empresas chinesas e brasileiras".
Aí, sim, é ponto para Dilma sem senões. O Brasil precisa, calcula importante empresário, algo em torno de R$ 100 bilhões por ano até 2014 para investimentos, só uma parte coberta pelo BNDES. Na China, sobra dinheiro e a remuneração local é baixa, o que torna o Brasil um porto interessante.
Desde que --ressalva Dilma-- o investimento implique transferência de tecnologia.
A diplomacia brasileira festeja, ainda, o fato de o comunicado ter incluído uma menção aos direitos humanos, tema tabu na China. Eu não festejaria, não, porque o texto diz que "as duas partes fortalecerão consultas bilaterais em matéria de direitos humanos e promoverão o intercâmbio de experiências e boas práticas".
Conhecida como é a experiência chinesa em matéria de direitos humanos, dispenso o intercâmbio.
PS - Aproveite, por favor, enquanto estou em Pequim para me xingar à vontade. O filtro chinês impede "pendurar" comentários ao pé da coluna. Logo, não posso ler nada do que você escreve.
Clóvis Rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor

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