Além de premiar seu antigo tesoureiro Delúbio Soares, recebendo-o novamente no partido, o PT escancara a pressão que faz sobre a presidente Dilma Roussef. Figura sem a projeção de seus antecessores, Rui Falcão assume a presidência dos petistas e mostra a força de José Dirceu, líder do partido antes e depois dos problemas pelos quais responde com a cassação do seu mandato e indiciamento como um dos mensaleiros.
Lula, que agora começa a falar após o obsequioso silêncio, já se manifesta contraditando teses de Dilma, para alegria de facções petistas, cujos integrantes não tinham como contestar o ex-presidente, mas se acham em condições de tratar Dilma Roussef como uma igual. Ainda é cedo para se falar em divisão na cúpula do partido e do governo, mas o tempo dirá como tudo se encaminhará até 2014, quando a histórias poderá ser outra que não a simples indicação de Dilma para o segundo mandato.
Quanto a Delúbio Soares, basta para ilustrar citar-se a observação da senadora Marta Suplicy, de que o ex-tesoureiro geral do PT “segurou tudo calado”. É verdade, assim se passaram seis anos e Delúbio não se envolveu, não se referiu a nenhuma figura de expressão do PT, inclusive e principalmente os seus colegas de
indiciamento no Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Joaquim Barbosa estuda a montanha de denuncias e sofre com a sua coluna incomodando-o e impedindo um desenvolvimento mais tranqüilo no exame do volumoso processo do qual é relator.
Óbvio que o PT escolheu bem a época de suas resoluções que tomou em fins de abril: o recebimento de Delúbio, a eleição de Falcão e a montagem mais explicita da pressão que mostra exercer sobre a presidente da República. Dilma cerca-se de antigos petistas, tendo com segurança o seu chefe da Casa Civil, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Brizolista de início, Dilma foi filiada ao PDT. Passou para o PT e teve a admiração de Lula. O resto é conhecido, até porque o ex-presidente não tinha em seu governo uma figura capaz de impingir com tamanha vantagem uma derrota aos tucanos senão valendo-se da figura reservada e respeitada como administradora da antiga colaboradora.
Ainda sobre Delúbio Soares, vale lembrar-se da entrevista coletiva que, pressionado, concedeu em 2005 sobre o escândalo do mensalão. Teve no presidente do PT de então, deputado José Genuíno, um orientador nos bastidores e no comando da entrevista, transformando-a, se todos lembramos, num espetáculo deprimente em que a palavra era por Genuíno tomada para respostas evasivas e que contribuíram, com o tempo, para levar o mesmo Genuíno ao desgaste político acentuado.
Entrevista assim, vergonhosa, somente foi igualada pela concedida por Roberto Requião no dia seguinte às eleições em que derrotou Osmar Dias em 2006, e que, nervoso e sem controle, mostrou toda sua revolta e decepção pela pequena diferença que conseguiu estabelecer sobre o antigo amigo e colaborador. Tudo ainda na lembrança de quem acompanha a política, de lá e de cá.
*Ayrton Baptista, jornalista
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