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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Haiti - a cozinha do inferno...


Na "cozinha do inferno"

haitianos comem

     o que o mundo rejeita
20 de janeiro de 2011  10h46  atualizado às 13h50

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Haitianos procuram alimentos, a maioria podre, acumulados em meio a roupas doadas aos desabrigados. Foto: Laryssa Borges/Terra
Haitianos procuram alimentos, a maioria podre, acumulados em meio a roupas doadas aos desabrigados
Foto: Laryssa Borges/Terra

LARYSSA BORGES
Direto de Porto Príncipe
Rua dos Milagres, 20h em Porto Príncipe.
 Um comboio das Nações Unidas patrulha
 o bairro de Bel-Air, o mais afetado pelo terremoto
 que matou cerca de 230 mil haitianos em 2010.
 Nas ruas desertas, apenas os faróis dos caminhões
 militares iluminam poucos rostos - todos acuados.
 Em um canto, mulheres preparam o cardápio da noite: 
carcaça de galinha ao molho de mostarda.
A poucas quadras dali, a expressão "cozinha do inferno"
 é insuficiente para descrever o centro de distribuição
 de alimentos da região - a maior parte, podres.
 Roupas sujas e doadas disputam lugar com pilhas
 de alfaces estragadas. As vísceras de cabras,
 porcos e aves, destrinchados em praça pública,
 formam enormes fogueiras. Qualquer noção de
 saneamento básico é absolutamente ignorada.
 O odor da miscelânea ofertada pelos "chefs" inebria
 os olhos e nariz de forasteiros. Os haitianos barganham
 o alimento que o restante do mundo rejeita.
No bairro de Bel-Air, onde a maior quantidade dos mortos
 pelo terremoto ficou por semanas soterrada, 
palavras de ordem são pichadas nas redondezas
 dos muros do Palácio Nacional, atual sede -
 semi destruída - do governo René Préval. 
Parte da população é hostil ao olhar dos "turistas da miséria"
- fotografando as mazelas alheias - a Préval,
 classificado como "ladrão" das doações da comunidade 
internacional aos haitianos, 
e à própria Minustah (Missão das Nações Unidas para
 a Estabilização do Haiti).
Meia dúzia de banheiros químicos são amontoados
 em frente a barracas de desalojados -
 estas apenas um dos 123 acampamentos de desabrigados
 da capital haitiana. Uma jovem, em meio à lama,
 tenta equilibrar a vela nas mãos para ir ao toilette
 alagado e malcheiroso. Desinibido, um rapaz urina
 diante da população.
Bel-Air, 8h do dia seguinte. O mote "ousar ainda
 é o melhor jeito de ser bem sucedido" permanece
 marcado em spray nas redondezas do Palácio Nacional do Haiti.
 O comércio, desorganizado, tenta dar vazão a rádios,
 comprimidos, pães e o quê mais puder ser juntado 
pelos aspirantes a vendedores.
Carros seguem abandonados. Os escombros -
 60 milhões de toneladas de entulho foram consequência
 do terremoto - entopem ruas, bueiros e canais
 que um dia podem ter transportado água fresca 
para a população do país mais pobre das Américas.
Em menos de três meses mais de 3,3 mil haitianos
 morreram vítimas da cólera. De todos os micro avanços
 ofertados ao Haiti desde o massacre provocado pelo terremoto,
 o saneamento básico é o maior entrave. De Bel-Air, 
símbolo da destruição dos tremores de terra, só resta o nome.
crõnicas do pensador leia mais...

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