Ocidente rejeita declaração de cessar-fogo da Líbia
EUA, Reino Unido e França afirmam que promessa líbia de suspender ofensiva não é suficiente
Os EUA, Reino Unido e França mantiveram a pressão sobre a Líbia nesta sexta-feira, afirmando que a declaração de um cessar-fogo repentinamente anunciado pelo regime de Muamar Kadafi não era suficiente, pelo menos por enquanto, para evitar uma ação militar contra suas forças.
Ecoando palavras ditas horas antes pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou que Washington não "se deixará impressionar por palavras", afirmando que os aliados "precisam ver ações no terreno, o que ainda não está claro". Essas ações incluiriam, segundo Hillary, um claro afastamento das forças de Kadafi do leste do país, onde ameaçavam lançar uma ofensiva final contra o reduto rebelde de Benghazi, a segunda maior cidade do país.
Apesar de o chanceler líbio, Moussa Koussa, ter anunciado que o regime Kadafi paralisará todas as operações militares, há informações de que confrontos ainda ocorrem em pelo menos duas cidades: Ajdabiya e Misrata.
Foto: AP
Rebelde líbio é visto na linha de frente perto de Sultan, sul de Benghazi
Ao anunciar o cessar-fogo, Koussa disse que a medida "fará o país voltar à segurança" e protegerá todos os líbios. Ao mesmo tempo, porém, ele criticou a autorização a uma ação militar internacional no país, classificando-a de violação à soberania líbia. Segundo a Eurocontrol, depois da aprovação da resolução, a Líbia fechou seu espaço aéreo.
Em entrevista coletiva depois de se reunir com o vice-primeiro-ministro e ministro de Relações Exteriores da República da Irlanda, Eamon Gilmore, HIllary disse que a resolução aprovada na quinta-feira pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU "é um passo para pôr fim à violência na Líbia".
A resolução determinou a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre o país e autorizou ações militares para proteger a população civil, incluindo bombardeios. A resolução recebeu dez votos a favor e nenhum contra, mas cinco países - incluindo China e Rússia, membros permanentes do Conselho, e o Brasil - se abstiveram.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) disse que continuará com o plano militar previsto para uma possível operação na Líbia apesar do cessar-fogo, disse a porta-voz da organização, Carmen Romero. "O planejamento continua", disse Carmen, afirmando que os aliados entraram em acordo nesta sexta-feira para finalizar o mais rápido possível seus preparativos para uma ação militar.
Segundo fontes aliadas, as autoridades militares da Otan podem finalizar no domingo o plano para impor a zona de exclusão aérea para frear os bombardeios contra os rebeldes líbios. Essa zona requereria ataques aliados contra algumas infraestruturas, que podem ser lançados unilateralmente por países como França e Reino Unido mesmo antes do consenso dos 28 membros da Aliança.
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Preparativos militares
A França anunciou nesta sexta-feira que a ação militar ocidental contra a Líbia começará nas próximas horas. Perante a Câmara dos Comuns, o primeiro-ministro britânico disse que os preparativos para desdobrar no Mediterrâneo os aviões que participarão da imposição da zona de exclusão aérea já começaram. Cameron disse a BBC sobre Kadafi: "Vamos julgá-lo por suas ações, e não por suas palavras."
Nas próximas horas, os aviões estarão operacionais nas bases das quais poderão voar para aplicar a resolução aprovada pela ONU. Cameron explicou que os aviões da RAF (a Força Aérea Real do Reino Unido) que participarão da operação serão caças-bombardeiros Tornado e Typhoon.
O porta-voz francês e ministro do Orçamento, Francois Baroin, disse à rádio RTL que a ação militar ocorrerá "rapidamente... nas próximas horas". Ele afirmou que isso não se trata de uma ocupação, mas sim de uma ajuda às forças de oposição ao regime de Kadafi.
Por outro lado a Itália excluiu por enquanto a possibilidade de que seus aviões participem das operações, embora esteja disposta a ceder três de suas bases para a operação.
Segundo o correspondente da BBC em Paris Christian Fraser, a França pode enviar à Líbia jatos Mirage que estão posicionados em bases militares na ilha da Córsega. Fraser diz ainda que outros aviões franceses posicionados na costa do Mediterrâneo, com ajuda de sistemas aéreos de alerta e controle, têm sido enviados a missões específicas 24 horas por dia desde quinta-feira da semana passada.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, já defendia ataques "cirúrgicos" nos bunkers de controle e nos sistemas de radar de Kadafi. No entanto, segundo Fraser, a França não descarta realizar bombardeios contra forças líbias em terra.
O correspondente da BBC afirma que a participação da França nessas ações é uma grande vitória polícia de Sarkozy, cujo governo havia sido criticado por não apoiar o levante popular na Tunísia.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, disse que a resolução do Conselho de Segurança constitui uma "resposta positiva à reivindicação da Liga Árabe" a favor de medidas para proteger os civis líbios, indo ao encontro dos esforços da França, Reino Unido, Líbano e EUA. "É necessário tomar essas medidas para evitar um maior derramamento de sangue", disse Hague.
Após a votação da ONU, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, um dos maiores defensores da intervenção militar contra Kadafi, falou por telefone por cerca de meia hora com o presidente dos EUA, Barack Obama.
Estados Unidos
Segundo fontes ouvidas pela BBC, é improvável que os EUA participem da ofensiva no início, que devem ter apoio logístico de nações árabes. Concentradas na cidade de Benghazi, no leste do país, forças contrárias a Kadafi comemoraram o anúncio da ONU.
A resolução, de número 1.973, foi proposta por Reino Unido, França e Líbano e contou com apoio dos EUA. O ministro francês de Relações Exteriores, Alain Juppe, apresentou a proposta dizendo que "na Líbia, por várias semanas, a vontade do povo tem sido alvejada pelo coronel Kadafi, que está atacando seu próprio povo". "Não podemos chegar tarde demais", disse Juppe.
Foto: AFP
Líbios cebebram em Benghazi decisão do COnselho de Segurança de impor zona de exclusão aérea e autorizar ações militares na Líbia (17/03/2011)
Segundo a embaixadora americana na ONU, Susan Rice, a "resolução deve enviar uma forte mensagem ao coronel Kadafi e seu regime de que a violência deve parar, a matança deve parar e o povo da Líbia deve ser protegido e ter a oportunidade de se expressar livremente".
Voto brasileiro
Ao lado de China, Índia, Rússia e Alemanha, o Brasil se absteve na votação. Ao justificar a decisão, a embaixadora brasileira na ONU, Maria Luisa Viotti, disse que o gesto "não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias ou como negligência para com a necessidade de proteger a população civil e se respeitar seus direitos".
Segundo Viotti, "o Brasil é solidário com todos os movimentos da região que expressam suas reivindicações legítimas por melhor governança" e leva em conta "o chamado da Liga Árabe por medidas enérgicas que deem fim à violência, por meio de uma zona de exclusão aérea".
No entanto, a embaixadora afirma que "o texto da resolução em apreço contempla medidas que vão muito além desse chamado. Não estamos convencidos de que o uso da força como dispõe o parágrafo operativo 4 (OP4) da presente resolução levará à realização do nosso objetivo comum - o fim imediato da violência e a proteção de civis".
Ainda segundo Viotti, o Brasil teme que ações militares exacerbem tensões e façam "mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos".
"Muitos analistas ponderados notaram que um importante aspecto dos movimentos populares no Norte da África e no Oriente Médio é a sua natureza espontânea e local", diz ela.
*New York Times, AP, BBC e EFE
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