Inflação acima da meta estipulada pelo BC vai mexer com seu orçamento
Indexação parecia ter sido riscada dos dicionários dos brasileiros desde o lançamento do Plano Real
Alessandra Ogeda | alessandra.ogeda@diario.com.br
As tarifas de ônibus e a conta de luz sobem e, no mesmo embalo, a consulta médica também. A escalada nos preços provocada pela inflação se espalha por diferentes produtos e serviços em efeito dominó, mesmo que a relação de causa e efeito, em alguns casos, seja uma tarefa difícil de explicar.
O dominó da inflação
A razão disso é a indexação, uma palavra que parecia ter sido riscada dos dicionários desde o lançamento do Plano Real, em 1994. Isso porque a indexação só pulsa quando existe inflação. Como qualquer organismo nocivo, ela ajuda a alimentar a alta de preços e reduz a força das medidas do governo na tentativa de segurar a alta nos preços.
O professor Ricardo Humberto Rocha, do laboratório de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), afirma que a indexação acaba contaminando a maioria dos preços quando a inflação supera os 4% ao ano. É o que está acontecendo agora. A inflação acumulada em 12 meses encerrados em abril foi de 6,51%, superando o limite máximo tolerado pelo Banco Central para este ano (6,5%). Para quem viveu a realidade anterior ao Plano Real, não parece nada de muito alarmente. Basta dizer que, em 1993, a inflação chegou à incrível marca de 2.477% ao ano, ou 6,79% ao dia.
Veja a inflação nos principais produtos e serviços
Mesmo em um nível bem mais civilizado, a inflação continua perigosa e corroendo o salário das pessoas, especialmente de quem ganha menos. A festejada nova classe C, lembra Rocha, é uma das mais prejudicadas por uma inflação acima do centro da meta (4,5%) do BC, porque 40% do seu gasto está mais concentrado na alimentação.
O problema é retomar o círculo vicioso que caracteriza a indexação, em que o reajuste de preços de diferentes produtos e serviços está atrelado à inflação passada. A lógica até se justificava numa época em que a inflação descontrolada corroía o valor de tudo da noite para o dia. O problema é que, segundo levantamento da MB Associados, 40% dos preços no Brasil ainda são indexados.
Samy Dana, professor de finanças da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que isso é perigoso porque faz os preços aumentarem no piloto automático.
— O que aumenta em um mês provoca outros aumentos no decorrer do ano, formando uma bola de neve. Alguns ajustes são mais diretos, como os aluguéis, mas outros não seguem regras lícitas, aumentando mais do que o necessário, algumas vezes.
A influência do medo de perder dinheiro
Na avaliação de Dana, dois fatores fazem a prática da indexação seguir vigente. O primeiro é o temor de perder dinheiro com a inflação. Este medo faz com que muitas pessoas antecipem os reajustes que podem ocorrer e já repassem isso para os consumidores sem terem registrado, necessariamente, este índice de perda com a inflação. Além disso, no Brasil, as margens de lucros ainda estão em níveis absurdos para os padrões de países desenvolvidos.
— Setores como o de alimentos e o comércio, em geral, seguem a ideia de que é adequado ter uma margem de lucro maior por causa da taxa de juros alta. Assim, sempre que os juros aumentam, as pessoas aproveitam para fazer reajustes também — afirma.
Algumas indexações são praticadas de forma clara, como os aumentos previstos nos contratos de aluguéis ou de serviços públicos — luz, água e transporte coletivo. Outras são ocultas, resultantes da ideia de que é preciso recuperar as perdas com a inflação — mesmo quando elas não existem.
Há reajustes provocados pela indexação que se justificam. Como quando a alta das matérias-primas afeta o custo final de um produto. Mas há outros, especialmente os que envolvem a prestação de serviços, que não se baseiam numa explicação lógica.
— Muitos médicos estão repassando a inflação no preço das consultas. Neste cenário, o que as pessoas precisam fazer é buscar produtos e serviços alternativos, quando possível — orienta o professor Rocha.
Existe ainda um tipo de indexação oculta, alerta Gustavo Cerbasi, especialista em finanças e autor de best-sellers da área. Em vez de remarcar preços, fabricantes reduzem embalagens. É o papel higiênico com uma camada a mais, mas 10 metros a menos no rolo, ou o chocolate mais fino a cada modernização de embalagem. Uma forma mais sutil de empurrar a inflação ao seu bolso.
O dominó da inflação
A razão disso é a indexação, uma palavra que parecia ter sido riscada dos dicionários desde o lançamento do Plano Real, em 1994. Isso porque a indexação só pulsa quando existe inflação. Como qualquer organismo nocivo, ela ajuda a alimentar a alta de preços e reduz a força das medidas do governo na tentativa de segurar a alta nos preços.
O professor Ricardo Humberto Rocha, do laboratório de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), afirma que a indexação acaba contaminando a maioria dos preços quando a inflação supera os 4% ao ano. É o que está acontecendo agora. A inflação acumulada em 12 meses encerrados em abril foi de 6,51%, superando o limite máximo tolerado pelo Banco Central para este ano (6,5%). Para quem viveu a realidade anterior ao Plano Real, não parece nada de muito alarmente. Basta dizer que, em 1993, a inflação chegou à incrível marca de 2.477% ao ano, ou 6,79% ao dia.
Veja a inflação nos principais produtos e serviços
Mesmo em um nível bem mais civilizado, a inflação continua perigosa e corroendo o salário das pessoas, especialmente de quem ganha menos. A festejada nova classe C, lembra Rocha, é uma das mais prejudicadas por uma inflação acima do centro da meta (4,5%) do BC, porque 40% do seu gasto está mais concentrado na alimentação.
O problema é retomar o círculo vicioso que caracteriza a indexação, em que o reajuste de preços de diferentes produtos e serviços está atrelado à inflação passada. A lógica até se justificava numa época em que a inflação descontrolada corroía o valor de tudo da noite para o dia. O problema é que, segundo levantamento da MB Associados, 40% dos preços no Brasil ainda são indexados.
Samy Dana, professor de finanças da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que isso é perigoso porque faz os preços aumentarem no piloto automático.
— O que aumenta em um mês provoca outros aumentos no decorrer do ano, formando uma bola de neve. Alguns ajustes são mais diretos, como os aluguéis, mas outros não seguem regras lícitas, aumentando mais do que o necessário, algumas vezes.
A influência do medo de perder dinheiro
Na avaliação de Dana, dois fatores fazem a prática da indexação seguir vigente. O primeiro é o temor de perder dinheiro com a inflação. Este medo faz com que muitas pessoas antecipem os reajustes que podem ocorrer e já repassem isso para os consumidores sem terem registrado, necessariamente, este índice de perda com a inflação. Além disso, no Brasil, as margens de lucros ainda estão em níveis absurdos para os padrões de países desenvolvidos.
— Setores como o de alimentos e o comércio, em geral, seguem a ideia de que é adequado ter uma margem de lucro maior por causa da taxa de juros alta. Assim, sempre que os juros aumentam, as pessoas aproveitam para fazer reajustes também — afirma.
Algumas indexações são praticadas de forma clara, como os aumentos previstos nos contratos de aluguéis ou de serviços públicos — luz, água e transporte coletivo. Outras são ocultas, resultantes da ideia de que é preciso recuperar as perdas com a inflação — mesmo quando elas não existem.
Há reajustes provocados pela indexação que se justificam. Como quando a alta das matérias-primas afeta o custo final de um produto. Mas há outros, especialmente os que envolvem a prestação de serviços, que não se baseiam numa explicação lógica.
— Muitos médicos estão repassando a inflação no preço das consultas. Neste cenário, o que as pessoas precisam fazer é buscar produtos e serviços alternativos, quando possível — orienta o professor Rocha.
Existe ainda um tipo de indexação oculta, alerta Gustavo Cerbasi, especialista em finanças e autor de best-sellers da área. Em vez de remarcar preços, fabricantes reduzem embalagens. É o papel higiênico com uma camada a mais, mas 10 metros a menos no rolo, ou o chocolate mais fino a cada modernização de embalagem. Uma forma mais sutil de empurrar a inflação ao seu bolso.
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