Manifestantes entram em choque com a polícia na Líbia
Centenas exigem libertação de ativista em protesto contra o regime de Kadafi na cidade de Bengasi, leste do país
Pelo menos 2 mil manifestantes entraram em choque com a polícia e partidários do governo da Líbia durante a madrugada desta quarta-feira na cidade de Bengasi, no leste do país, a cerca de mil quilômetros da capital do país, Trípoli. O jornal líbio "Quryna" afirmou que os confrontos deixaram ao menos 40 feridos, incluindo dez policiais.
A tensão foi desencadeada pela prisão de Fathi Terbil, um advogado e notório crítico do presidente Muamar Kadafi que representa as famílias de vítimas do suposto massacre realizado por forças de segurança no presídio de Abu Slim, em Trípoli, em 1996.
Mais de mil prisioneiros foram mortos na ação de forças de segurança, em circunstâncias que ainda não foram esclarecidas. O presídio abriga opositores do governo e militantes islâmicos.
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Na terça-feira, uma multidão que contava com parentes dos presos marchou até a sede do governo local para exigir a libertação de Terbil. Mesmo após a libertação do ativista, os manifestantes seguiram para a praça Shajara, a principal da cidade.
Uma testemunha, que não quis se identificar, disse à BBC que ''algumas pessoas na multidão começaram a gritar slogans antigoverno e os demais passaram a acompanhar''. Neste momento, começaram os enfrentamentos entre os manifestantes, a polícia e partidários do regime.
Os manifestantes atiraram pedras na polícia, que usou gás lacrimogênio, balas de borracha e canhões d'água para dispersar os manifestantes. A praça, então, foi tomada por ativistas governistas que ocuparam o local até quarta-feira de manhã. A emissora de TV estatal não noticiou os protestos contra o governo, mas divulgou imagens de centenas de manifestantes a favor do regime em Bengasi e em cidades como Sirte, Seba e Trípoli. Eles carregavam grandes fotos de Kadafi e bandeiras da Líbia e gritavam palavras de ordem a favor do líder.
A cidade portuária de Benghazi é a segunda maior da Líbia e é atípica em relação ao restante do paós por ter um histórico de antagonismo com o regime de Kadafi. Muitos moradores locais não apoiaram o presidente quando ele chegou ao poder por meio de um golpe militar, em 1969.
Não há relatos independentes sobre o número de participantes nos protestos em Benghazi, mas testemunhas contam que uma manifestação chegou a reunir 2 mil pessoas.
Mundo árabe
Tanto a concentração de Bengasi como as manifestações a favor de Kadafi acontecem às vésperas de uma jornada de protestos contra o regime convocada para a quinta-feira por cerca de nove mil internautas líbios nas redes sociais.
Manifestações pró-democracia vêm se espalhando por diversos países árabes e muçulmanos. Eles tiveram início na Tunísia em dezembro passado e provocaram a deposição do então presidente do país, Zine al-Abidine Ben Ali, no final de janeiro. Na semana passada, uma série de manifestações provocou a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak.
Nos últimos dias, também ocorreram protestos no Bahrein, que já deixaram três pessoas mortas, e manifestações no Irã, Argélia, Iêmen e Jordânia.
Com Reuters e EFE